Não leve a vida tão a sério, você não vai sair vivo dela!

Ao ser convidado por uma grande rede varejista para ministrar uma palestra sobre segurança no trabalho para seus funcionários, prontamente atendi o pedido e no dia e hora marcado, estava antes do horário na sala de reuniões e eventos, esperando os trabalhadores saírem do seu local de trabalho, para assistirem a referida palestra.

Lá pelas tantas, após organizar o material e checar se tudo estava funcionando, sobrou mais alguns minutos e tive que atender ao chamado da natureza, em suas infinitas necessidades fisiológicas. Como não havia banheiro na sala e o mais próximo era o dos funcionários, sem problemas me dirigi ao local e ao fechar a porta, tentando me concentrar para o que viria, tomei um grande susto com a poluição visual que estava nela.

Eram desenhos, palavras e mais palavras, dezenas delas. Fiquei pensando quanto tempo e esforço aqueles funcionários dedicaram para fazer tudo aquilo só em uma porta de seus banheiros (não olhei os demais). Quantos daqueles funcionários eram desenhistas e outros tantos escritores e poetas desconhecendo seu potencial. Mas o que me chamou atenção foi a frase que é título esse artigo e estava escrita em canetão de cor preta com ponta grossa, destacando-se por cima das demais grafias.

Por alguns momentos me permiti refletir sobre essa frase, pois nesse dia falaria com eles sobre a segurança no ambiente de trabalho, mas como dizer isso depois de ter lido um pensamento igual aquele? Toda preocupação com a segurança no trabalho, integridade física, risco e perigo no ambiente de laboral, não tinham razão de ser, se não levar a vida a sério.

Entrei na sala treinamentos da empresa, já um pouco preocupado, mas resolvi começar a palestra dessa vez um pouco diferente. Apresentei a eles três exemplos de pessoas que tiveram problemas no ambiente de trabalho. O primeiro não foi culpa do trabalhador, mas devido a descuidos da empresa, seu profissional foi eletrocutado, não morreu, mas até hoje vive fazendo cirurgia para reconstituir o rosto que ficou completamente desfigurado.

O segundo exemplo foi de outro trabalhador que fez tudo certo, utilizou os equipamentos de segurança, ficou sempre atento aos perigos e riscos que se apresentaram em seu ambiente laboral. Seu empregador da mesma forma, comprou os equipamentos de segurança, exigiu seu uso e sempre que havia problemas com os equipamentos de segurança, ele os substituía. Tudo certo.

Porém para infelicidade desse profissional ao sair do ambiente da empresa, ele foi trabalhar como voluntário em uma igreja e encostou em um fio de alta-tensão. Resultado: Até hoje ele vive sem enxergar e visitando os médicos todos os meses. Não foi culpa dele e nem de sua empresa.

Já o terceiro funcionário foi outra história. Ele trabalhava na empresa há mais de vinte anos, nunca utilizou  equipamentos de segurança e nem conhecia o que era isso. Trabalhava totalmente desprotegido com uma empresa que utilizava em sua base sílica, mas por algum tempo nada sentia.

Após a empresa comprar os equipamentos necessários, se adequando as normas de segurança e os demais funcionários utilizarem os EPIs disponibilizados, ele continuava não utilizando, dizendo que nunca precisou disso, porque teria que usar agora?

Esse teimoso trabalhador com o passar dos anos contraiu a doença chamada silicose e não aguentando o sofrimento, venho a falecer deixando sua família sozinha e desamparada.

Todos me olharam quase que assustados, mas não tinham como negar, os casos apresentados eram todos reais e aconteceram com pessoas reais e sendo dessa forma, poderia acontecer com eles também. Comentei sobre a famigerada frase que havia lido no banheiro e o quanto ela havia me perturbado, fazendo com que alguns rissem, descontraído um pouco o ambiente.

Depois que a graça parou perguntei a todos eles se acreditavam que a vida era mesmo dessa forma, não precisavam levar ela a sério, pois não sairiam vivos dela. Alguns concordaram e trouxeram alguns argumentos fracos, mas a maioria ficou olhando, esperando para ver o que eu falaria.

Pequei as três fotos das vítimas de acidentes que tínhamos visto um pouco antes e mostrei novamente para eles. Disse que a vida é cheia de surpresas, as vezes boas outras nem tanto, mas é uma vida somente que temos e como vamos terminar ela, vai depender do que nós escolhermos hoje.

Se não for levada a vida a sério poderemos morre ainda jovem, sem desfrutar tudo de bom que espera por nós, se tivermos sorte. Os que não tiverem sorte poderão passar a vida tentando se recuperar de lesões assombrosas, passando a viver com muitas dores e visitando constantemente os médicos, talvez morando em hospitais.

Poderemos passar a mesma vida sem conseguirmos fazer algo de útil, por nós e por nossas famílias. Não veremos o crescimento de nossos filhos, não teremos como ajudar nossa esposa ou marido, viver com nossos amigos, tudo porque um dia a vida não foi levada a sério e sofremos um terrível acidente de trabalho. E agora? Temos e devemos que levar a vida a sério, incluindo o nosso trabalho, caso contrário sofreremos as consequências de nossas escolhas e nossas familias também.

Ninguém disse uma palavra, vi muitas faces molhadas, pois se não estavam pensando neles mesmos, agora estavam pensando em seus entes queridos, por esses vale a pena levar a vida muito a sério, é a nossa família quem depende de nós e onde realmente fazemos falta. Não sairemos vivos dessa vida, mas com cuidado conseguiremos passar por ela, vivendo plenamente com nossas familias e amigos.

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