Sergio Weinfuter

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O escravo reprodutor

O escravo reprodutor



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Imagem: http://www.ceert.org.br/noticias/historia-cultura-arte/7557/pata-seca-o-escravizado-que-viveu-131-anos




Desde quando o Brasil foi descoberto em 1500 até a assinatura de libertação da princesa Isabel em 1888 houve escravidão declarada em terras brasileiras e continuou depois da declaração de liberdade, mas de forma mais escondida. A escravidão não foi deixada de lado no momento exato da assinatura do documento, mas a libertação foi sendo efetuada gradativamente.


Nessa multidão de escravos que comandavam os trabalhos nas fazendas de café, algodão, cana-deaçúcar e nas minas, não existiam somente escravos agricultores e mineiros, mas viviam escravos das mais variadas profissões, afinal de contas, eles foram arrancados de sua terra onde viviam como homens livres e vendidos como escravos em nossa terra, porém todas suas habilidades vieram junto com eles.


Mas uma das profissões que pouco conecemos e nada sabemos é a profissão de produtor. Isso mesmo, um escravo reprodutor, que produzia escravos para as fazendas. Não é lenda e nem brincadeira, essa profissão realmente existiu, pelo menos no Brasil. Não era um escravo comum, morava na casa grande junto com os patrões, mas ainda era um escravo que seguia ordens e se as desobedecesse, era punido igualmente aos demais.


É claro que haviam algumas regalias para esse tipo de escravo e também não poderia ser qualquer escravo, ele tinha que ser especial. Um desses escravos “Nascido em Sorocaba na primeira metade do século XIX, Roque José Florêncio foi comprado por um fazendeiro de São Carlos (SP) e escolhido para ser "escravo reprodutor" no distrito de Santa Eudóxia.” (Piovezan, 2016)


Segundo “Familiares e um estudo afirmam que ele teve mais de 200 filhos e, segundo a certidão de óbito, morreu com 130 anos.” (Piovezan, 2016) Devido a falta de documentos e sua história ser negligenciado pela nossa história oficial, ficou a cargo da família e conhecidos, para redescobrir e contar sua história. “A família conta que Roque foi comprado na Vila Sorocaba e vendido para Visconde da Cunha Bueno, dono de um latifúndio voltado para a produção de café. Na propriedade, ganhou o nome e o apelido de Pata Seca pelas mãos compridas e finas.” (Piovezan, 2016)


Era uma figura que impunha respeito por onde andava, não somente por sua posição diante dos demais escravos, mas ele “era alto – tinha 2,18 m – e, na época, acreditava-se que homens com canelas finas gerariam filhos do sexo masculino, foi escolhido para se deitar com as escravas e gerar mais mão de obra. Também cuidava dos cavalos e era responsável pelo transporte de correspondência entre a fazenda e a cidade.” (Piovezan, 2016)


Para o psicólogo Marinaldo Fernando de Souza, doutor em educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) com uma tese que aborda a história de Pata Seca, “estima-se que mais de 30% dos moradores de Santa Eudóxia sejam descendentes de Roque e o papel dele como produtor pode ajudar a explicar por que o número de escravos na região continuou a aumentar mesmo depois de restrições como a Lei Eusébio de Queirós.” (Piovezan, 2016)


Essa história continua sendo investigada pelo pesquisador, auxiliado pelos descendentes de Roque, mas devido a falta de documentos é extremamente difícil comprovar toda ela, porém ele realmente existiu e viveu na região até ser “Internado na Santa Casa de São Carlos, Roque morreu em fevereiro de 1958, apenas três meses depois de participar do desfile de aniversário da cidade como o homem mais velho do município.” (Piovezan, 2016)


f7551fdc.jpgSegundo documentos oficiais Roque morreu de uma combinação de fatores e “O documento, lavrado em 17 de fevereiro de 1958, aponta que Roque morreu por insuficiência cardíaca, miocardite, esclerose e senilidade.” Mas sua neta Maria Madalena Florêncio Florentino não concorda com essa versão e conta um fato que antecedeu sua morte. Segundo Piovezan (2016) “Para dormir, deitava-se em uma cama de tarimba com colchão de palha de milho. Para os netos, foi dessa cama que caiu o prego que feriu o pé do avô. "Pegou bicheira. Usaram o remédio da senzala – fumo, urina e álcool – e uma moça cuidava, mas ela viajou para Rio Preto e ele piorou" Disse Madalena.”


De qualquer forma essa figura lendária e enigmática acabou morrendo, deixando uma história diferente para ser investigada e descoberta. Seus descendentes estão sendo procurados pelas redes sociais, os amigos e conhecidos entrevistados pelos pesquisadores, pois essa história não pode ser esquecida, ela faz parte de um Brasil que já acabou, mas precisa ser lembrado seus dias tenebrosos, os atos vergonhosos de um país que já foi escravocrata. Também é uma curiosa história que precisa ser desvendada e divulgada.


Meu blog:

http://guerreiro-das-sombras.webnode.com/


Para saber mais: Piovezan. Stefhani, 'Escravo reprodutor' teve mais de 200 filhos e viveu 130 anos, afirma família. Disponível em: http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2016/08/escravoreprodutor-pata-seca-teve-mais-de-200-filhos-e-viveu-130-anos.html Acesso em: 12/02/2017


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