Sangue o líquido precioso: (parte IV) Símbolismo

                     Imagem: http://www.paulopes.com.br/2012/03/religiao-usa-simbolos-da-morte-para.html#.WJEFafkrLIU

Há o relato na bíblia da história de Abraão e o pedido de sacrifício a ele de seu filho Isaque (Gênesis C.22 V. 2) um símbolo de obediência cega a seu Deus, quando pediu que matasse seu único filho e derramasse seu sangue em um altar de sacrifício. Outro forte simbolismo do sangue foi a última praga no antigo Egito quando todos os primogênitos desse país foram mortos e os Israelitas enfim, estavam salvos de sua escravidão. A ordem de Deus para Moisés foi que “Tomarão do sangue, e pô-lo-ão em ambas as ombreiras, e na verga da porta... (Êxodo C. 12 V. 7) Esse sangue agiu como um sinal, um símbolo, que naquela casa morava israelita e não egípcio e o anjo da morte ao ver o símbolo, passava ao largo dela.

Mesmo repudiando o consumo de sangue Deus orientou a utilizá-lo como um símbolo, nem ele mesmo pode deixar de ver o poder e potencial desse fluido maravilhoso. Já para alguns insetos o sangue é essencial para a sua reprodução, não conseguem viver sem ele, pois caso não encontrem, sua espécie estará extinta. No meio de todos esses insetos estão as pragas dos terríveis e incômodos mosquitos. Para eles é mais que um simples símbolo é uma questão de sobrevivência de seus filhotes!

Porém não são somente eles que estão em busca de sangue fresco, muitas tribos utilizaram o líquido precioso para “lavar” seus altares de sacrifícios. Muitos desses sacrifícios incluíram a morte de humanos e animais, banhando esses lugares com sangue. Inclusive na própria Bíblia são descritos rituais onde animais devem ser oferecidos em holocausto, degolando as vítimas, deixando o sangue escorrer por todo o altar, purificando-o. Um símbolo de limpeza e purificação.

As grandes civilizações pré colombianas Astecas, Maias e Incas utilizavam o sangue humano para o sacrifício aos seus deuses, na tentativa de aplacar sua fúria. “É um fato bastante conhecido que os Maias praticavam o sacrifício humano, seja por motivos religiosos ou médicos, mas o que a maioria das pessoas ainda não sabe é que muitos Maias ainda praticam o sacrifício, a boa notícia é que o sangue de galinha substituiu o sangue humano.” (SENAI, 2016) Para eles o sangue continua ainda hoje sendo um forte símbolo para aplacar a fúria de seus deuses.

Os Astecas tinham um ritual de sangue “que os sacerdotes arrancavam o coração de uma pessoa viva e a atiraram escada à baixo. Ela morria antes de bater no chão.” (SENAI, 2016) Os Incas sacrificavam tanto animais como pessoas e segundo a professora de história das Américas Ana Raquel Portugal (2016):

Os animais eram sacrificados cortando-os de um dos lados e retirando-lhes o coração ainda pulsando para assim poder profetizar. As crianças que chegavam acompanhadas pelas suas mães comiam, bebiam até ficarem embriagados e logo enchiam-lhes a boca de coca e cortavam-lhes o peito, para retirar-lhes o coração palpitante que ofereciam aos deuses e com o sangue untavam as imagens de seus ídolos.
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Mas haviam outros tipos de sacrifícios com sangue usado na forma de simbolismo para aplacar a fúria de seus deuses. “O historiador Lorenzo Huertas afirma que as Virgens do Sol também foram submetidas a um tipo de sacrifício raro. Quando os deuses estavam muito zangados com o povo, eram desvirginadas mais de 20 mulheres por um só homem e com o sangue resultante desse ato, se untavam os deuses com a intenção de acalmá-los.” (Portugal, 2016)

Ainda “o Padre Acosta descreve, entre outros, o episódio da morte de Huayna Capac em que se sacrificaram voluntariamente mais de 1.000 homens e mulheres.” Tudo com intenção de aplacar a fúria de seus deuses ou a procura da cura de alguma doença. Segundo o mesmo padre “Houve também sacrifícios de crianças e com seu sangue fez-se uma marca de orelha a orelha no rosto do defunto. Ele nos conta também, que eram comuns os sacrifícios de virgens quando o chefe Inca passava por alguma enfermidade ou em período de guerras.” (Portugal, 2016) Simbolismos brutal de um povo que acreditava no poder do sangue, o líquido precioso.

Mas não foi somente os povos pré colombianos que utilizaram o sangue como forma de aplacar a fúria de suas divindades. “Os Thugs na Índia matavam para agradar a Deusa Kali. Escandinavos, gregos e romanos tinham em suas práticas ancestrais muitos sacrifícios, tanto de animais, quanto de seres humanos.” (Kolesnikov, 2014) Todos eles derramavam o sangue para que seus sacrifícios tivessem o efeito desejado. O simbolismo desses atos, são muito poderosos para essas sociedades.

Mas esses rituais não ficou restrito a antiguidade “O sacrifício animal ainda hoje costuma ser bastante solicitado nos cultos africanos como Umbanda, Quimbanda e nos Candomblés “brasileiros”. Os animais sacrificados geralmente são galinhas, galos e gatos negros, pombas, cobras, bodes, cabras e cães. O animal deve ser apunhalado no coração, ou pelo pescoço, e em ambos os casos com o punhal.” (Kolesnikov, 2014)

Esse líquido é tão precioso e reverenciado que muitas alianças entre povos foram feitas com a mistura do sangue dos reis. Pacto de sangue entre amigos e irmãos que foram selados como prova de amizade e parceria por toda vida dos indivíduos envolvidos.

A bíblia diz que deve haver derramamento de sangue. “na primeira lição ética da Bíblia, se indica que o único sacrifício que agrada os olhos do Senhor é um sacrifício de sangue. Como disse São Paulo, “Sem o derramamento de sangue não há remissão.” Aliás, isso me lembra aquela citação "Não existe vitória sem guerra"; basicamente remete ao fato de o sangue gerar progresso. (Kolesnikov, 2014)

Bandidos quando querem enviar um recado para alguém, matam pessoas e espalham seu sangue por todo recinto, deixando a cena do crime mais horrenda do que de costume, sabendo da importância e o poder do sangue derramado. Um dos bandidos mais horrendo da história ficou conhecido como Jack o estripador. Segundo reza a lenda, ele matava as prostitutas, abria seus corpos, tirava suas vísceras e as espalhava pelo local onde havia cometido o homicídio e algumas vezes levou partes delas para comer. O sangue das vítimas era derramado e muitas vezes utilizado para escrever recados a polícia, deixando a cena do crime, mais macabra ainda. Infelizmente ele nunca foi pego, mas até hoje é lembrado!

O simbolismo da cena de Jesus Cristo sangrando na cruz, banhando a madeira com seu precioso sangue, também é uma das cenas mais fortes da humanidade e mantém os milhões de fiéis unidos em torno de sua mitológica figura. Não há como duvidar do poder do sangue, o líquido precioso. Os mantras "O sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo pecado e o sangue de Jesus tem poder," são invocados todos os dias nos quatro cantos do mundo, principalmente no mundo cristão, tal a crença nesse simbolo sagrado.

Continua...

Próximo artigo: Sangue o líquido precioso (Parte V) Proibições e tabus.

* Todas as referências que utilizei na composição dessa série de artigos, seus acessos estarão no último artigo que encerrará esta série. 

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